CONHEÇA CHIMBUILA

by David Tjyakala (Angola)

A leap into the unknown Angola

Shares

Uma visita ao bairro periférico Chimbuimla, nas montanhas do Lobito, em Benguela. Como tantos outros bairro da província, é um sobe-e-desce, como se não existisse o cume ou uma concordância entre as esquinas. Há quem diga que percursos diários nessas "escadas" ajudam a «fazer perna». Debaixo de um calor tropical estávamos nós no pátio da escola 17 de Setembro, uma escola primária que se gaba por ter um laboratório. Vimos os talentos do futebol escondidos naqueles muralhas, ouvimos também a estória do maior Gangstar que ali vivera, Zé Duro. A morte do mais temido da zona, segundo fontes, só fora possível com a ajuda do Umbanda nos finais de 90. "Roubei com ele um saco de milho de um tio, me doeu me'mo!", confessou um antigo vizinho e amigo de Zé. Afinal de contas, a necessidade faz o ladrão! É nessa tarde que ouvimos grandes ketas da terra cantadas em Umbundo ou Português. Num final de semana em que MC K tem o seu show em Luanda, os seus clássicos tocavam no aparelho (tipo bluetooth) que não era da última geração, mas que espalhava sonoridades que relatam a nossa gente. O que aquele pequeno grupo ouvia era Undeground a sério e nostálgico: «Eu vou sorrir p'ra não chorar, p'ra mais um dia da minha vida... », eram sons que acompanhavam a sombra da tamarineira do campo da escola. Cantavam para não pensarem nas malambas dessa vida? Eram jovens com ideias fixas e aplausíveis que, pelos vistos, pertencem a um Movimento local. Ouviam, os jovens, mais tarde, a música 'Subúrbios', de Valete: «onde Deus nunca passou». E se por um lado o Atlântico deveria cair por terra, por outro lado os jovens e crianças dos bairros Picapau, Chimbuimla 1, 2, 3 reuniam para saudar mais um fim-de-semana com bebidas e desnutrição infantil à volta. A Zona 6 é com certeza das piores para se realizar um desfile de moda, talvez um carnaval? Não, nem carnaval dá! É uma banda de escaladores de montanhas e, portanto, quem não escalar não come, não bebe (a não seja que for álcool — Esse líquido rompe qualquer barreira), não faz o médio e nem tão pouco tem a vista das lindas praias. A Faculdade é, para muitos, uma utopia, uma vaidade, uma ilusão levada ao mais alto grau do desperdício por parte de muitos jovens em Luanda. Aqui um ou outro usa ténis de marca e marcas das pedras que constituem os montes, marcas de esperanças gaias com asas para voar até ao céu azul. Aqui há também o choro de uma criança que se espalha por todo bairro — Na verdade não se espalha, é que em cada beco há um choro diferente. Essa é uma narrativa que continuará até que as chuvas do petróleo borrife terras das nossas comunidades nessa imensa Angola adentro.