O chá da verdade

by iully prado Martins Almeida (Brazil)

A leap into the unknown Brazil

Shares

Quando eu cheguei, tudo parecia normal. Éramos um grupo de pessoas reunidos em um único lugar em busca da mesma coisa: conhecimento. No centro havia uma fogueira linda, que era alimentada frequentemente por uma alma feminina, e ninguém mais fazia este trabalho. Quando me ofereceram a bebida, eu tomei. Na hora senti muito sono e não hesitei deitar-me. Todos levaram seu colchonete e estavam todos postos em volta do fogo. Dormi. Na segunda rodada da mesma bebida, tudo pra mim se modificou. Eu senti a diferença. Fui ao banheiro fazer minha primeira limpeza e ainda lá dentro, sentia a maior movimentação dentro de cada partícula minha. Ao sair do banheiro, minhas pernas sucumbiram. Eu caí na grama e me senti maravilhada com toda geometria que tomou a minha visão. Foi uma viagem interdimensional. As cores eram mais nítidas e todas as pessoas já bailavam, menos eu. Eu não tinha forças. Outra limpeza foi engatilhada. Mas dessa vez eu não precisava ir ao banheiro. A limpeza estomacal era realizada do outro lado de onde eu estava. Não me lembro como consegui me levantar, mas fui. Atravessei todo grupo, o lugar onde eu estava e fui para o mato fazer a minha segunda limpeza. Lá eu fiquei. Por tantas horas... Ali começou a maior viagem da minha vida. Eu não tinha mais controle. As imagens ainda estavam ali. Já não eram mais agradáveis mas eu abri bem meus olhos. Eu precisava ver aquilo. Eu cheguei ao fim e retornava ao começo em pouquíssimo tempo. Minha vida chegou ao fim e novamente eu nascia. Cada ponto de luz representava uma vida. E todos juntas representavam o todo. Todos eram parte de uma única proposta. E eu, já não aguentava mais resistir. Minha respiração encurtava a cada movimento desconhecido que se aproximava. Eu fui julgada de todas as formas. Eu vivia para alimentar todos. Eu queria matar todos. E quando eu já não tinha mais forças, alguém me entregava um lenço de papel para limpar minhas lágrimas. Meu nariz queria sugar todo o ar, mas todos precisavam respirar também. Apavorante. Até que a terceira rodada da bebida começou acontecer novamente, no campo físico. Caramba, eu havia esquecido onde estava. Onde eu fui não era o mesmo lugar que eu estava. Mas eu não me lembrava onde estava meu corpo.. meu espirito se perdeu. Não consegui tomar a última dose. Entrar novamente para a roda perto da fogueira já foi outro desafio. E depois de acordada eu já não queria mais esquecer tudo aquilo que eu tinha visto. Foi o fim, e também o começo do meu despertar. Lutar para resgatar os lugares que eu conheci, os espaços que eu me tornei foi meu ultimo trabalho naquele dia. Agradeci o céu. Agradeci o plano físico. Até hoje eu ainda guardo resquícios dessa grande viagem, e resgato momentos únicos, que me fizeram acordar dentro de um plano que até hoje vive dentro de mim.