Trilhas no cerrado e cachoeira perto do centro de Brasília

by Sallya Pereira (Brazil)

I didn't expect to find Brazil

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Serrinha do Paranoá: trilhas no cerrado e cachoeira a 15 minutos do centro de Brasília Como uma comunidade engajada e preocupada com a preservação ambiental contribui para o desenvolvimento local e a transformação de uma região de exploração e grilagem de terras em polo de ecoturismo com deliciosas trilhas no meio do cerrado nativo e uma linda cachoeira a 15 minutos da Esplanada dos Ministérios. Nasci e fui criada em Brasília numa região próxima à barragem do Lago Paranoá, um lago artificial de 48km2, hoje cartão postal e principal atrativo da cidade. Concretizado durante o período em que o Brasil era governado pelo presidente Juscelino Kubitschek, junto com a construção da Capital Federal. Até os 33 anos nunca tinha ouvido falar em Serrinha do Paranoá ou Cachoeira do Urubu. Em 2017 fui participar de uma oficina de alimentação crudívora numa região próxima à barragem. Na época morava no Sudoeste, um dos bairros no centro de Brasília. Dirigi cerca de 15 minutos da minha casa até o Lago Norte e, seguindo o GPS, entrei numa via que mais parecia um portal: da cidade direto para o meio do cerrado nativo. Uma estrada de chão contornada por árvores com troncos retorcidos e flores peculiares das mais variadas cores, me levou a uma casa rústica com horta e pomar orgânicos e um rio com local para banho. A sensação era de ter feito uma viagem. A oficina foi maravilhosa, mas o que mais me impressionou foi o lugar. Como isso poderia existir tão perto de onde sempre vivi sem que eu conhecesse? Intrigada, conversei com o dono da casa que me contou, orgulhoso, um pouco da história e do nome dado por seu amigo Paulo Bertran, um ilustre historiador local: Serrinha do Paranoá, uma região mencionada no Plano Diretor como cinturão verde e cabeceira das águas de Brasília. Importantíssima para o abastecimento da cidade e para a preservação do Lago Paranoá. Ele me contou também sobre a atuação da comunidade local que, muito bem organizada, engajada e preocupada com a preservação da região, desenvolveu vários projetos de recuperação de nascentes, reflorestamento, preservação das margens dos córregos e demarcação de trilhas. Todos esses projetos visam explorar a vocação local para o ecoturismo como forma de preservação. A região corre risco de adensamento e sofre com a ocupação e venda ilegal de terrenos. Esse cenário põe em risco as nascentes, os córregos, o cerrado e toda a biodiversidade local e, consequentemente, o abastecimento de água potável de Brasília. Em rápida pesquisa na Internet descobri que o local, apesar de não ser muito conhecido pelo público geral, era já bastante desenvolvido como polo de ecoturismo. Vários grupos locais de trekking e mountain bike, como o Rebas do Cerrado, utilizam a região para encontros de aventura nos fins de semana. A documentação sobre as trilhas é bem completa com mapas, tracklog e informações detalhadas sobre atrativos, alertas e equipamentos recomendados. Entre os atrativos, vários mirantes em que se pode observar a cidade inteira do alto; a Torre de TV digital, um ponto turístico recente e bastante procurado e a cachoeira do Urubu, ponto final de quase todas as trilhas. Um dia, voltando do trabalho, decidi explorar a região. Fui até o ponto mais próximo à Cachoeira do Urubu, de fácil acesso de carro. Caminhei por volta de 7 minutos e estava na cachoeira. Não é muito alta, mas é suficiente para impressionar pela proximidade. Tudo no ambiente faz parecer que estamos muito longe da cidade: a floresta em volta; os pássaros, micos e borboletas; a ausência de pessoas; o clima fresco e úmido e o silêncio, apenas o som da água caindo. Um convite para um banho num poço de tamanho suficiente para um mergulho revigorante. Da para sentar numa pedra e deixar a água massagear as costas. Depois dessa visita repentina, me permiti explorar mais a região. Percorri as trilhas demarcadas no meio do cerrado nativo, visitei os mirantes e, claro, terminei minhas visitas com um banho de cachoeira. Aliás, vários! Um dia desses me vi indo até lá num intervalo de almoço do trabalho. Virou um refúgio da bagunça do dia a dia e um portal onde me teletransporto para dentro de mim mesma.